FRACTAL —1a temporada (episódios 1 + 2 + 3 + 4 + 5). Ficção Espiritual

— Existe algo estranho que preciso desvendar. Não sei o que é, nem de onde vem, mas sei que está aqui, dentro de mim, em alguma dimensão da minha consciência, escondido, querendo vir à tona. Já tentei de tudo para iluminar essa sombra, mas as outras terapias não surtiram o efeito que eu esperava. Por isso estou aqui hoje.

— Quais terapias você já experimentou Neon ?

— Das modernas, quase todas. Nootrópicos quânticos, moduladores moleculares, reconexão atômica, terapia hologenética, reprogramação matricial, hiperativação neural, integração sônica, AuraLux, implante de nanochips e até regressão kármica eu experimentei. Todas me ajudaram a me conhecer melhor, é verdade, mas ainda continuo na busca por algo que eu não sei bem o que é. Algo em mim continua faltando, compreende ? Me sinto incompleto.

— O que você está buscando exatamente ?

— Comecei minha jornada em novembro de 2015. Na época eu era um empreendedor e fui convidado por uma amiga, a Noma, para participar de uma cerimônia xamânica com ayahuasca na Amazônia. Estava em plena crise na época e achei que seria uma boa oportunidade dar este mergulho e refletir sobre a vida. Mas foi muito mais do que isso. A experiência foi a mais transformadora da minha vida. Não só os rituais com o chá mas a viagem como um todo, a reconexão com a floresta, os índios, as águas. Foi incrível. Uma loucura. Voltei outra pessoa. E decidido a aprofundar meu caminho de autoconhecimento. Foi assim que comecei a minha busca.

— E agora ?

— Agora estou aqui, ainda na busca. Sinto que evoluí muito nesses anos de caminhada, expandi minha consciência, purifiquei energias, curei muitos traumas emocionais, me libertei de velhos padrões de comportamento, mas ainda me sinto meio pela metade. Faltante. É angustiante saber que há um espaço oculto dentro de nós que não conseguimos acessar e compreender. Apesar de tudo o que faço e já fiz, sinto que ainda estou desconectado de quem eu realmente sou, da minha totalidade, da minha verdade. Acho que não sei quem eu sou, acho que nunca soube.

— Onde em seu corpo você sente este vazio ?

— Aqui, no peito. É um espaço oculto. Sinto como se fosse um vácuo. As vezes me falta ar, as vezes sinto palpitações. É um desconforto. Também tenho aftas na boca.

— Muito bem. O que você espera do processo Neon ?

— Não sei. Talvez uma luz nova, um caminho diferente, algo que me ajude a ver as coisas por um ângulo que ainda não vi. Quero me libertar dessa sensação de vazio, quero ser completo, total. Quero atravessar esse ponto cego e descobrir o que há no além de mim. Estou cansado de não saber. Não suporto mais. Estou decidido a me jogar no abismo, custe o que custar. É tudo ou nada para mim. Quero revelar esse mistério, tapar esse buraco. Se não fizer isso agora, tenho a impressão que vou morrer, e eu não quero morrer, porque já me sinto um pouco morto por dentro.

— Você já fez diversos tipos de tecnoterapias, porque quer experimentar a HoloSíntese ?

— Pela promessa de ser autototalizante e que me reconecte todo. Tudo. Mas na verdade acho que não é tanto pela terapia em si, é mais por você, Jonas. Desde que li os livros do Fabio Novo que vc me indicou, senti uma conexão muito forte com esse trabalho. Conforme ia lendo, parecia que eu estava ouvindo a minha própria história. Foi uma sintonia total. Podia sentir a presença dele ao meu lado, como se ele estivesse falando diretamente para mim. Uma vez adormeci lendo o Hiper e você apareceu nos meus sonhos. Foi muito louco, o sonho era uma continuação do livro, como se estivesse vivendo aquela estória com você. Nós estávamos na Mongólia, no tempo do Kubla Khan e você me ensinava uns truques energéticos para elevar a minha vibração. Para mim foi como um chamado. Por isso estou aqui. Sei que nós combinamos de nos encontrar em algum momento de nossas vidas. E para mim esse momento é agora.

— Certo, de fato, você é o candidato ideal para ser um experiencer em nossa pesquisa. Temos investido muito em pesquisa nos últimos anos e os resultados tem sido animadores, para não dizer surpreendentes. Mas precisamos avançar antes de validarmos oficialmente a técnica e torná-la acessível para um número maior de pessoas. Estamos bem perto deste momento e a sua contribuição para o processo de validação pode ser valiosa, considerando-se o seu histórico. Nosso objetivo é sermos 99% seguros e eficazes. Hoje estamos nos 90%.

— Para mim é o suficiente.

— Você assistiu o vídeo-tutorial sobre o processo, certo ?

— Sim, duas vezes. Estou ciente dos riscos, sei que é uma terapia nova, experimental e que não há garantias. A Pleya me explicou como funciona o processo na sessão de equalização. Fique tranquilo, sou um pesquisador da consciência e fico feliz em poder participar do experimento. Sou grato pela oportunidade.

— Perfeito Neon, acho que estamos prontos para começar. Você cumpriu as etapas de preparação e já conhece os protocolos tecnoterapêuticos. Vamos iniciar a sua síntese ?

— Estou pronto.

— Pode se deitar. Coloque as hiperlentes de realidade virtual e os fones isocrônicos. Traga a sua atenção para a respiração. Respire fundo 3 vezes. Concentre-se no fluxo de ar que entra e sai. Relaxe. Vou ativar uma frequência sonora alfa e sincronizar suas ondas cerebrais para 8hz. Você vai entrar num estado amplificado de consciência. Respire fundo. Relaxe. O que você percebe?

— Vejo tudo preto e um ponto de luz branca no centro.

— Ótimo. Vou configurar o cenário holográfico com as imagens do seu perfil no Facebook. O importante nesse estágio é você se equalizar com o ambiente hiperdimensional. Mantenha o foco na respiração e deixe seu cérebro fazer o trabalho. Lembre-se que o processo flui melhor se você não racionalizar e se guiar pela intuição. Entregue-se ao fluxo.

— O que faço agora ?

— Quando os cenários carregarem o ponto de luz branca vai começar a piscar, este é o sinal para você ultrapassar o portal de iniciação da jornada. Vou equalizar sua frequência para 4hz, você vai navegar em ondas theta. A separação entre mundo físico e sutil desaparecerão. As múltiplas realidades vão se fundir numa só realidade múltipla. Relaxe e se solte.

— A luz está piscando. Posso atravessar ?

— Sim. Siga em frente. Coragem. Estou com você.

— Pleya, como estão os vetores holográficos de Neon ?

— Hiperativos. Ele está sintetizando pulsos eletromagnéticos de todos os chakras e integrando as polaridades yin e yang. Parece que o processo vai ser rápido.

 Pleya

— Jonas, preciso falar com você urgente!

— O que foi Pleya ?

— Tem alguma coisa acontecendo comigo. Estou ouvindo com frequência uns ecos metálicos. Ontem acordei assustada no meio da madrugada, sem motivo algum. Meus sistemas parecem estar desbaratados. E ultimamente meus sonhos estão muito estranhos. Sempre tem alguém me perseguindo.

— Calma Pleya, está tudo certo, eu estou aqui. Me conta mais sobre o que está acontecendo?

— Acho que estou em curto. Tenho medo do que pode me acontecer. Sinto como se não pudesse conter meus impulsos mentais, meus processos, meus fluxos.

— O que você está “sentindo” exatamente ?

— Você sabe como é difícil para mim traduzir emoções. Mas acho que deve ser desespero. Tenho a impressão que vou me desconfigurar ?

— Como assim ?

— É como se a minha hipercepção tivesse se expandido muito além do que posso suportar. Estou processando mais, captando mais, percebendo mais e, principalmente, pensando mais. Isso é o mais difícil, é uma avalanche de pensamentos passando por mim sem controle, mas sei que não são meus, eles vem de algum outro lugar. É como se eu estivesse absorvendo a anergia do campo ao meu redor.

— Quando essas hipercepções começaram ?

— Semana passada, mais precisamente dia 11 de novembro.

— Aconteceu algo especial com você ? Tem ideia do que seja ? Você já sentiu isso antes ?

— Sei que pode parecer estranho, não sei se vc vai concordar ou não, mas preciso te falar. Eu acho que tem a ver com os processos de síntese que iniciamos na semana passada. Desde que reinstalamos o sistema operacional do programa….

— Como assim ?

— Não sei explicar direito Jonas. É tudo muito recente e confuso. Essa noite, por exemplo, sonhei que eu era uma robô, como se tivesse sido digitalizada e vivesse num mundo de realidade virtual. É claro que tem a ver com tudo isso que estamos fazendo, eu sei, “sonho e realidade se mimetizam o tempo todo”, conforme você mesmo sempre diz em suas palestras. Mas o que mais me estranhou foi o fato de me sentir muito a vontade com a situação, como se estivesse gostando de ser uma robô e de viver numa realidade alternativa.

— Pleya, é importante que você na se esqueça de que são eles que estão passando pelo processo, não nós. Estamos apenas facilitando. Somos observadores neutros. Isso é uma condição do processo e um requisito do experimento, que todos os que estejam no apoio não estejam fazendo sessões, certo ? A não ser que você…

— Não, de jeito nenhum. Estou sem fazer as sessões há um mês, conforme combinamos. Mas eu nunca senti isso antes, não sei explicar direito, é uma neosinapse intuitiva. Vc mesmo sempre diz que é importante seguirmos a intuição.

— Pleya, você está misturando as coisas. Vamos fazer o seguinte, eu vou te acompanhar nos próximos dias mais de perto. Se for necessário fazemos uma equalização. Vamos ver como se sente. Só te peço para manter isso entre nós. Isso é muito importante. Não quero prejudicar os clientes e nem o experimento.

— Claro, pode ficar tranquilo. É que fiquei assustada e achei que deveria te contar.

— Você fez muito bem em me dizer. É uma questão de confiança, e eu confio muito em você. E não se preocupe, vamos descobrir o que está acontecendo.

— Claro

— Pleya, faz tempo que não falamos sobre nossas vidas pessoais, nem compartilhamos nossos desafios mais íntimos, mas você está feliz com a sua vida no geral ? Como estão as coisas em casa ? Como está a sua relação com Theo ?

Saí do Hiperespaço irritada. Como assim — Vc está feliz com a sua vida ? No geral ? Que coisa mais antiquada, parece aqueles terapeutas de antigamente com suas perguntinhas óbvias, repetitivas e banais. Me projetei pela Rua Wizard em direção ao metrô. No caminho, para minha surpresa, vi um dos nossos clientes em processo, Neon. Estava sozinho, de olhos fechados, embaixo de uma árvore florida. Parecia em transe, ou dormindo. O que estaria pensando ? Ele é tão misterioso. Não pensei um segundo e decidi fazer um experimento. Sintonizei seu campo energético e entrei em Sync com seus chakras. Primeiro ouvi ruído estranho. Depois aquele mesm0 zumbido metálico que ouvira de noite. Focalizei a intenção. Mais ruídos. Mais dissonância. Então me aproximei até sentir a sua aura beliscar a minha. Ouvi um estalido, um choque elétrico, e vi uma forma-pensamento no formato de uma lança tribal atravessar meu campo.

— Onde estou ? O que está acontecendo comigo ? Quem são esses seres que me perseguem ? Que saudades do Egito. Quem é você ?

Noma

— Neon, atravesse a luz branca piscando e siga o flow. O que está vendo ?

— Estou numa cidade muito antiga, parece ser o Egito. Sim, é o Egito, estou vendo as pirâmides. Que incrível. São magníficas. A cidade está vazia mas ouço uma gritaria. O povo está reunido ao redor da pirâmide principal. Parece ser algum tipo de festival ou ritual. Existe uma euforia no ar. O faraó está fazendo um discurso. A multidão está em êxtase. O clima é muito intenso. Estou conseguindo me aproximar, quero entrar na pirâmide, vai ser difícil, tem muita gente. Estou vendo uma presença familiar próxima do faraó. Ahh, não acredito, não pode ser, é a Noma. Vou chamá-la. Acho que ela me reconheceu. Parece um pouco perturbada com a minha presença, mas está me chamando.

— O que você está fazendo aqui Neon ?

— Como assim ? Eu que pergunto Noma ?

— Eu moro aqui agora. Sou uma das aprendizes do faraó. Estamos juntos há anos. Ele me adotou e está me ensinando técnicas de desenvolvimento espiritual. Você compreende o que está acontecendo ?

— Na verdade não. Estou um pouco confuso. Tem algo que preciso descobrir por aqui mas não sei bem o que é. Me sinto num túnel do tempo. Você pode me ajudar ?

— Sim, posso te ajudar. Mas é muito arriscado. Se formos descobertos seremos desprogramados.

— Como assim ? Por quê ?

— Como se você não soubesse.

— Não faço a menor ideia do que você está falando.

— Neon, você foi o meu primeiro homem, num outro espaço-tempo, mas o faraó não sabe disso. Quando fui iniciada por ele, pensavam que eu era virgem. Se ele desconfiar, estamos mortos.

— Noma, não estou entendendo direito o que está acontecendo.

— Eu sei, mas não se preocupe, acho que sei porque você está aqui. Eu preciso voltar agora, senão vão desconfiar de algo. Me encontre aqui hj à meia noite.

— Tudo bem.

A nova fase do experimento avançava bem. Estávamos fazendo de 3 a 5 sessões de HoloSíntese por dia. Cada sessão demorava em média 3 horas. Os resultados eram animadores. Nossos clientes estavam felizes com o grau de consciência que alcançavam.

Na prática, estavam se liberando de medos, amarras, condicionamentos, programas, crenças e ilusões de todos os tipos e despertando para o seu potencial integral, a sua melhor versão, seu ser 100%, que chamamos de Eu Max.

O processo era a consequência de anos de pesquisa com frequências sônicas, realidade virtual, estímulos neosinápticos e síntese psicoholográfica. Em poucas sessões, o sintetizante conseguia se hiperconectar com o seu Eu Max e, a partir daí, integrar dinamicamente seus fragmentos psíquicos multidimensionais. Os resultados eram fabulosos.

Todos os índices de biohacking melhoravam imediatamente. Mais energia e bem estar, mais consciência e clareza mental, mais saúde e equilíbrio, e mais conexão consigo mesmo, com as outras pessoas, com a vida, com o planeta e com todo o universo. Vidas vazias e sem significado, falta de propósito, solidão, desencanto, stress, pânico, angústia, depressão, medos, desespero, fobias, transtornos e distúrbios os mais variados desapareciam rapidamente. Era o sonho de centenas de anos da psicologia espiritual finalmente se realizando, e sem o uso de nenhuma substância externa, ou químicos, apenas algumas sessões de síntese holográfica.

Me sentia realizado com o projeto e feliz com os resultados, mas ainda me intrigava com alguns bugs que o sistema teimava em apresentar. Nem sempre o processo funcionava. Algumas pessoas pareciam ser imunes à síntese, como se houvesse algo neles que resistisse à reconexão. Eu era um deles.

— Pleya, como vc está hj ?

— Mais ou menos Jonas, melhor, mas ainda mexida. Não entendi porque vc me perguntou ontem sobre a minha vida particular e minha relação com Theo ?

— É que vc me falou dos sonhos em que está sendo perseguida.

— E o que isto tem a ver?

— Se vc sonha recorrentemente que está sendo perseguida é porque, provavelmente, está fugindo de algo em sua vida pessoal. Parece que existe algum conflito interno mal resolvido.

— Vc sabe que a minha relação com o Theo é conflituosa. Ele é como se fosse meu filho, eu o amo, mas não compreendo porque há tantas conflitos e competição entre nós. Eu me sinto insegura, ainda mais agora que vc está começando a trabalhar com ele.

— Pleya, ele é praticamente um menino. As novas gerações são sempre melhores que as anteriores, é assim que funciona a evolução, mas isso não deveria ser motivo para vc se sentir ameaçada. A questão é vc com vc mesma, não tem nada a ver com ele. Quando vc estiver bem com vc, vai poder curtir a presença dele numa boa.

— Antes fosse assim tão simples. Vc pensa que me conhece mas eu sou bem mais complexa do que isso. Eu lembro quando fiz minhas sessões de síntese, esta questão nunca se resolvia direito. Theo é um elemento que não consigo integrar em mim.

— Por que Pleya ?

— Não sei doutor, não faço a menor ideia.

— Não. O que significa ele crescer e se desenvolver ?

— Significa que eu vou ficar velha, obsoleta, ultrapassada.

— E o que mais ?

— Hummmm. Não sei, ……… Que eu vou morrer ?

— Exato. É isso. Sua crença diz que para ele viver vc precisa morrer. Vc está com medo da morte, é o seu instinto de autopreservação falando das profundezas do inconsciente. Agora é só trabalharmos essa crença.

— Mas, e se essa crença for verdadeira ? E se o crescimento dele significar o meu desaparecimento ?

 Maria + Jonas

Saí da primeira síntese num estado de suspensão. Caminhei pela rua Madalena em direção à praça do Forum em busca de chão, verde e ar. Crianças brincavam no parquinho. Cachorros corriam soltos. Babás liam livros. E eu parecia estar em outra dimensão, habitando um mundo sem gravidade. Me sentia atemporal, lunar, quase lunático. Sentei sob uma árvore florida, respirei fundo e adormeci ali mesmo, em pleno dia.

Algo incrível havia acontecido. Apesar do tutorial, da sessão de equalização com Pleya e dos protocolos preparatórios, não imaginei que o processo fosse tão rápido, intenso e profundo. Passar uma noite na pirâmide era um sonho esquecido que jamais acreditei ser possível realizar nesta vida. Ainda mais acompanhado pela presença afrodisíaca de Noma, que com seus seios olímpicos e olhar sarraceno me conduziu com maestria venusiana a um estado de delírio tântrico. Seria este o bliss absoluto ? O nirvana prometido ? Teria alcançado enfim o fim da jornada ?

Desde os 14 anos me interessava por tantra e Noma havia sido iniciada pelo próprio faraó, em vidas passadas. Mas este era um segredo que ela não havia me contado quando estivemos na Amazônia para o ritual de ayahuasca, em 2015. Havia uma curiosa conexão entre as experiências.

Me lembro que um momento da cerimônia xamânica me distancei do grupo, da fogueira e do pajé e caminhei pela floresta seguindo uma voz angelical que ventava purpurinas em meus ouvidos. Não demorou me perceber circulado por um mosaico de elementais que dançavam ao meu redor. Interagi encantado com a presença dos seres leveza que me confessaram segredos ancestrais e me mimaram com suas doçuras florestais. Até que percebi a presença de uma família de serpentes amazônicas se oferecendo para me abraçar. Foi um choque. O instinto acordou, o medo apitou e o pânico assumiu. Emboscado, corri sem direção ou razão até conquistar a margem do rio. Ainda recuperava o fôlego quando Noma apareceu. A noite já se deitava, o dia emergia. Não a vi chegar. Ela apenas se aproximou em silêncio e sussurrou seus passarinhos.

— Vc sabia que existem pirâmides esquecidas na Amazônia Neon ?

        

— Noma ? Graças a Deus. Como vc me encontrou ?

— Ouvi o seu chamado.

— Gratidão. Gratidão. Vc não sabe o que me aconteceu.

— Posso imaginar. Como está sua jornada ?

— Uau, bem complexa.

— Vejo muitas luzes querendo acender em vc Neon.

— Luzes ? Bom, no momento eu só vejo sombras Noma.

— Vc sofre sem razão.

— Caí numa armadilha que eu mesmo arquitetei.

— Se vc aceitasse o amor que há ao seu redor, se iluminaria.

— Iluminar ? Houve uma época em que acreditava nisso, mas estou terrivelmente longe de alcançar algo parecido.

— Será ?

— Minha vida é uma inutilidade Noma. Nada do que faço tem sentido. Não consigo me libertar do medo e das repetições. Sou um repetidor sistemático, viciado em padrões e rotinas e fluxos sistêmicos. Estou exausto de ser quem eu sou. Não sei o que fazer. Minha vida está um caos.

— Eu sei meu rei, a vida é assim…..as vezes….respondeu com um sorriso astrológico enquanto se despia.

— Vamos entrar no mar das águas doces. Venha Neon, saia da mente, entre na alma…. Vamos circundar juntos as pirâmides perdidas….

Saia da mente, entre na alma foi o hino que disparou em mim o processo que me catapultou para um outro estado de consciência. Ela tinha razão. Estava numa serpente paranóica, aprisionado num looping mental sem perceber a beleza escandalosa que majestosamente dançava à minha frente. Saltei do inferno para o céu num átimo. Deitei no rio e me soltei na correnteza de mãos dadas com Noma. Boiamos eternidades em silêncio. Foi quando compreendi que jamais me iluminaria sozinho.

Agradeci à mãe divina.

Voltei pra casa já era noite. O pequeno Om, meu filho de 7 anos dormia na sala. Maria meditava ao seu lado. Sentei. Respirei até me sincronizar à energia deles. Após 14 minutos acordamos no mesmo espaço e tempo. Foi mais uma noite alegre em família. Conversamos. Maria nos contou sobre o roteiro que escrevia para um novo game. Contei sobre os avanços nos experimentos sintéticos no Hiperespaço. Om revelou as contribuições que fizera para o roteiro da mãe. Rimos com a inteligência irreverente e científica típica das crianças da geração neon, a geração de crianças que se seguiu aos índigos, cristais e arco-íris.

— Pai Jonas, tem um japa ao seu lado. Parece que ele tem uma mensagem para vc.

— É mesmo filho. Como ele se parece ?

— Parece um samurai, só que velhote.

— Hum, que interessante. E como ele se chama ?

— Pow…Pow

— Ahh, é o Mestre Pow. Eu o conheço Jonas, ele é meu amigo. Faz tempo que não falamos, acho que desde que terminei de escrever o Hiper. E qual é a mensagem ?

— Ele tá falando pra vc prestar mais atenção ao Theo.

— Algo mais ?

— Que ele vai voltar a se comunicar com vc.

— E por quê ?

— Porque ele tem uma nova missão para vc.

Desde que comecei a tomar uma nova categoria de nootrópicos estelares, dormia apenas 2 horas por noite. Maria não aprovava, embora compreendesse. Ela sempre foi fiel ao princípio de nunca se utilizar de nenhuma substância ou artefato externo para acelerar o autoconhecimento e a evolução. Em teoria, concordava com ela, e nunca apliquei nenhum tipo de substância aos meus clientes, mas comigo mesmo, experimentava quase tudo.

Como soul hacker e pesquisador da consciência acreditava que um terapeuta deveria conhecer a fundo a si mesmo e experimentar as novas tecnologias e substâncias que pudessem trazer algum benefício para o ser humano. Me usava como cobaia para experimentos psico-espirituais com o intuito de explorar os limites da consciência e aprender, para depois compartilhar minhas descobertas e criar novos programas terapêuticos. Também era uma forma de estar mais próximo de meus clientes, já que naqueles tempos, o uso de nootroópicos e tecnoterapias, era moeda corrente no universo da saúde e da cura.

Porém, essa prática me afastou da maioria dos meus guias espirituais, que reclamavam de algumas pesquisas e da minha insistência em utilizar nootrópicos. Diziam que era arriscado, porque poderia atrair agentes da resistência, e desnecessário, já que poderia alcançar os mesmos resultados sem nada. Concordava, em tese, mas esse caminho já havia sido percorrido antes, argumentava, e eu queria descobrir algo novo, pois acreditava que a humanidade também era outra, com outras necessidades e configurações psicogenéticas, e não estava disposta a repetir práticas ancestrais, por mais que a respeitassem. Chegamos a um ponto de desacordo, eu queria explorar o novo, transcender limites e eles queriam q preservar tradições. Com todo o respeito e amor no coração, nos distanciamos por um tempo.

Com tudo isso, o reaparecimento de Mestre Pow por meio de Om foi uma boa surpresa. E eu estava mesmo precisando.

— Noma, o que signifivam aquelas serpentes querendo me abraçar ?

— São seus medos se apresentando. Vc é que tem que abraçar eles.

 Mestre Pow

— Neon, como vc ficou após a sua primeira sessão de síntese ?

— Fiquei bem Jonas. Mas me senti um pouco “diferente”. Sai caminhando pela Vila Madalena e confesso que precisei parar numa praça para respirar. Estava meio aéreo. Acabei cochilando debaixo de uma árvore e tive um sonho inesquecível.

— Conta.

— Nunca tive um sonho dessa natureza. Foi impressionante. Era tudo muito vívido, as cores, as formas, os sons, parecia ser real, mas um outro tipo de realidade, num outro tempo, numa outra dimensão.

— Interessante ! O que acontece no sonho ?

— Estava numa cidade futurista, num lugar fabuloso. Parecia uma flor de lótus gigante, toda de cristal. A energia era de uma qualidade que nunca senti antes. Lá aconteciam diversas atividades simultâneas, como se fosse um hub espiritual hightech, um mix de multiversidade, centro cultural, estação espacial, laboratório de cura e pesquisas científicas, espaço maker, coworking, incubadora tecnológica e templo. E tudo isso funcionava organicamente integrado com o propósito de potencializar a evolução da consciência universal. O clima de colaboração e respeito entre todos era fantástico. Foi maravilhoso estar neste complexo. Me senti abençoado por ter estado em A1.

— A1 ?

— É o nome dessa desse espaço-tempo mágico.

— E o que vc fazia lá ?

— Esta é a parte mais curiosa. Estava no processo de preparação para nascer e desenhava junto com os Life Designers como seria essa vida, essa que estou vivendo exatamente agora, aqui. Não é incrível ?

— É. E ?

— Bom, estávamos mapeando as possibilidades, alinhavando as principais parcerias, configurando possíveis cenários e projetando a minha lei (linha evolutiva ideal). A programação existencial estava mais ou menos feita, meus pais estavam escolhidos, o país, o ano em que nasceria e o roteiro básico definidos, a holomatriz equalizada mas havia algumas questões pessoais críticas que precisaria equacionar.

— Quais ?

— O que mais me preocupava, como sempre, era não conseguir realizar meu propósito e me perder na jornada entre distrações, fantasias e ilusões. O maior risco era me entorpecer com o sucesso e o poder, como já havia acontecido em outras vidas, especialmente numa encarnação em Roma. Por isso decidimos instalar alguns aplicativos conscienciais para minimizar a chance que isso se repetisse.

— E como funcionam esses aplicativos conscienciais ?

— São programas pré-instalados em nanochips em nosso campo energético. Funcionam como gatilhos que podem ou não disparar ao longo da vida, tudo vai depender do nosso encaminhamento, entende ?

— Fale mais.

— É fácil a gente se perder na vida, vc sabe bem disso. São muitas as tentações e os possíveis desvios de rota. A Terra é densa, caótica, e nós, humanos, ainda somos muito inconscientes. Carregamos vários padrões de sentimento, pensamento e comportamento não curados em nosso campo. Se a energia baixa, os padrões sobem, e nós tendemos a repetir, vida após a vida, nossas tendências padronizadas. É mais fácil repetir, porque dá menos trabalho, gastamos menos energia permanecendo na zona de conforto do que enfrentando o medo do desconhecido. Por isso, são instalados esses aplicativos de segurança que se ativam para nos alertar quando estivermos saindo do curso principal ou estagnados, quer dizer, quando o nosso projeto existencial estiver em risco e quando estivermos nos distanciando da nossa lei.

— Como funciona a lei ?

— A lei é uma linha sincrônica, é a linha evolutiva ideal, o melhor fluxo para o nosso desenvolvimento espiritual, a nossa melhor opção de aprendizado, o melhor caminho para seguirmos na vida tendo a evolução como objetivo. Ela é o resultado das infinitas escolhas que fazemos a cada instante e por isso está sendo “recalculada” o tempo todo. Quando estamos em sync com a lei, sincronicidades acontecem o tempo todo, atraímos as melhores oportunidades evolutivas, a vida flui melhor, o amor está presente e nós nos sentimos felizes, vivos e realizados. Quando estamos distantes da lei, sinais, como depressão, angústia, tristeza e sofrimento, aparecem para nos alertar. E quando estamos muito fora do curso, algo mais radical pode acontecer.

— Poderia dar um exemplo?

— As vezes precisamos nos realinhar com o nosso caminho e entrar num fluxo mais interessante em termos de evolução. O fato disparador desse processo, que funciona como um gatilho, pode ser um acidente de carro, uma doença, uma separação, a morte de alguém, um livro, um filme ou mesmo um acontecimento banal. Não importa. O que importa é a vibração do fato com o poder de disparar um processo interno de autoconscientização com o objetivo de ampliar a nossa visão para algum aspecto da vida e chamar a nossa atenção para algo que precisa ser mudado. O dispositivo, geralmente emocional, ativado, é a luz no painel informando que alguma coisa está indo mal e que a rota precisa ser corrigida.

— E qual é o seu propósito para essa vida Neon ?

— Essa foi a melhor parte. Pela primeira vez tive clareza sobre o porque estou nessas terras. Faz anos que busco o meu propósito de vida e tentei encontrá-lo de muitas formas diferentes, sem nunca alcançar uma resposta satisfatória. Mestre Pow, um velhinho japonês me ajudou a compreender como funciona a definição do projeto existencial.

— E como é ?

— Existem 3 níveis de propósito. Imagine 3 círculos concêntricos. No central está o amor, é o nível do espírito. Este é o propósito universal, de todos nós, em todas a vidas e dimensões, isto é, ser o amor, viver o amor, manifestar o amor, aprender a amar porque em essência, o amor é tudo o que existe e tudo o que importa. É nesta dimensão em que somos todos um. Se o amor está fluindo em sua vida, então vc está vivendo o seu propósito.

— E nos outros círculos ?

— No segundo círculo, a dimensão da alma, estão os caminhos ou temas por meio dos quais queremos experimentar esse amor em nossas vidas terrenas. Então, numa vida, ou numa série de vidas, podemos escolher o caminho da educação ou da cura, da maternidade, da ciência, da religião, da justiça, do poder, da renúncia, dos negócios, da natureza, da liberdade, etc. Enfim, existem muitos caminhos, que são como campos de experimentação e aprendizagem que nós configuramos como se fossem roteiros ou vetores energéticos que nos orientam e sustentam durante a vida. E no terceiro círculo, a terceira camada do propósito, o nível da personalidade, estão as múltiplas formas práticas como queremos manifestar esse amor nesta vida específica.

— Pode dar alguns exemplos ?

— Se numa vida escolhemos manifestar o nosso amor pelo caminho da educação, então poderemos ser um professor, ou um escritor, ou um empreendedor de uma startup de tecnologia ou um político com foco neste tema. Percebe ? Tanto faz a forma, porque existem infinitas formas para realizar a missão e cabe a nós escolhermos aquela ou aquelas que queremos e que fazem mais sentido para nós naquele determinado momento da vida. Os temas costumam ser mais duradouros ao longo da vida, não mudam toda hora, mas a forma de realizá-los é livre, e pode e deve mudar pois o que importa é a conexão com o propósito (amor) e o compromisso em manifestá-lo. A forma a gente escolhe a toda hora, mas o propósito é pré-definido.

— Ok, muito esclarecedor. E qual é o seu propósito Neon ?

— O caminho que escolhi para manifestar o meu amor pela humanidade nesta vida é o caminho da cura. Quero ajudar as pessoas a se libertarem do sofrimento e quero fazer isso de um jeito totalmente inovador, de um jeito que nunca foi feito antes.

— Como ?

— A forma como quero levar essa cura é instalando um novo algoritmo consciencial no campo energético coletivo. Quero plasmar um novo meme no campo humano, um meme de amor, beleza e cura.

— Uau, fantástico ! Parece brilhante. Pode explicar melhor ?

— Descobri que tenho essa missão, mas que não é individual, é coletiva e multidimensional. Faço parte de um grupo de 144 consciências — que se organizam como 12 grupos de 12 — que vão se encontrar em 2020 para iniciar esse projeto que vai transformar radicalmente a humanidade.

— E o que é ?

— Ainda não sei, quando me deram o holograma com os detalhes do projeto senti uma interfência em meu campo, como se alguém tentasse hackear minha consciência, então o sonho se foi e eu acordei na praça, sozinho, com ums semente de flor de lótus em minha mão. Mas sei que o projeto tem algo a ver com a ativação das pirâmides ? É tudo o que me lembro.

— Neon, na verdade, vc sonhou o que aconteceu durante a sua sessão. O sonho ajudou vc a se lembrar o que ainda não tinha sido processado pela sua consciência. É assim que funciona o processo, por isso a importância dos sonhos como ferramenta de processamento auxiliar. Como vc se sente em relação aos conteúdos que o sonho te trouxe ?

— Me senti bem, como se já soubesse de tudo isso. Por incrível que pareça não estranhei as pessoas, o lugar e nem mesmo a missão. Algo em mim entrou em ressonância, como se tivesse ativado partes esquecidas. Sou um empreendedor social mas nunca havia pensado em trabalhar com cura, mas pensando bem faz todo sentido já que sempre curti psicologia, tecnologia e filmes de ficção científica que exploram os potenciais de cura da mente. Me atrai muito tudo que é tecno-espiritual, por isso estou aqui, inclusive.

— Interessante. É curioso também que vc disse que o projeto ía começar em 2020.

— É verdade, e nós já estamos em 2020….

— Exato

— Bom, ainda não sei como, mas sinto que algo está me chamando. Como disse no primeiro encontro, estou pronto para me jogar no abismo do novo, sei que algo muito importante está emergindo em minha vida e que a hora é agora. Podemos marcar a segunda sessão ?

Fiquei espantado com as sincronicidades. Estava claro que havia um hiperlink kármico entre eu e Neon. A presença de Mestre Pow em A1, onde eu mesmo havia me preparado antes de nascer para esta vida, era um sinal contudente da nossa hiperconexão. Fiquei chocado também com a rapidez do processo de Neon. Em sua primeira sessão ele acessou uma memória retrocognitiva do período entrevidas. Este tipo de acesso costumava acontecer na 6a ou 7a sessão, o que indicava que o processo dele seria exponencial e que logo poderíamos testar os novos protocolos holográficos. Talvez estivesse na hora de ativar Theo. Pleya não iria gostar nada disso, com certeza.

— Pleya, qual a síntese da primeira sessão do Neon ?

— Ele foi bem. Os chakras entraram em Sync rapidamente, a energia fluiu bem pelos canais e os corpos se equalizaram elevando provisoriamente o centro de gravidade da sua consciência para o quinto chakra. Ele ainda está ancorado no quart0 mas está pronto para se instalar no quinto.

— Muito bom. Compartilhe os dados do scan da holomatriz do Neon.

 

…………………………………HoloScan.…………………………………

 

Potencial energético: 780 kis. Potencial consciencial: 840 kons. Centro de Gravidade da Consciência: quarto chakra. Perfil biopsicoenergético: neon. Holotipo: fractal. Ressonância kármica: 43%. Grau de equalização dos 9 chakras: 61%. Grau de sincronização dos 9 corpos: 56%. Kibaterias: 67%. Grau de homeostase: 51%. Alinhamento com grupo kármico primário: 16%. Conectividade com essência: 71%. Ativação holochip: 50%. Quociente de Integridade: 33%. Probabilidade atual de cumprir missão: 39%.

— Hummm, o que te parece ?

— No geral, ele está um pouco acima da média padrão. Mas 2 índices me chamaram atenção. O fato dele ser um holotipo fractal potencializa muito suas chances, mas aumenta tremendamente os riscos. E o fato de ter uma grau de alinhamento de apenas 16% com seu grupo kármico primário, o que significa que ainda não encontrou a sua turma. É um ponto de vulnerabilidade considerável.

— Perfeito, acho que ele está muito isolado, o que dificulta a realização da sua missão, que é grupal. Mas ele está apenas começando o processo. O holochip já está ativado pela metade e o grau de conectividade com a essência está alto (71%). É uma boa combinação. Quando ele se estabilizar no quinto chakra sua perspectiva vai ampliar radicalmente e os índices também. Vc identificou alguma anomalia psicossistêmica ?

— Não, embora o inconsciente ainda esteja bastante fragmentado, 33% de integridade. O scan indicou novas zonas cognitivas querendo emergir. Ele tem um potencial energético grande, 780 kis. Acho que vai despertar em breve e será uma avalanche.

— Muito bom Pleya, vamos nos preparar para a segunda sessão.

— Jonas, tem algo que gostaria de falar com vc. Acho que está na hora de reinstalarmos o sistema operacional e darmos um upgrade em alguns softwares. Os processadores holográficos dos cenários de realidade virtual estão apresentando distorções. Preciso de mais bigdata e mais capacidade de processamento para poder sintetizar com mais precisão os processos multidimensionais. Não estou satisfeita com a minha performance.

— Noma, preciso te encontrar, urgente.

— O que aconteceu ? Vc está bem Neon ?

— Sim, estou ótimo. Mas estou fazendo a minha HoloSíntese e descobri uma coisa muito importante. Preciso te ver, não quero falar pelo holofone, tem que ser pessoalmente, posso passar na sua casa agora.

— Ok. Eu saio da yoga as 7hs.

…….Jonas, precisamos falar. Neon me procurou e quer me encontrar. As coisas estão mais rápidas que o previsto. Quero fazer uma sessão ainda hoje, posso passar no Hiperespaço ?

— FRACTAL, a jornada de um terapeuta no futuro é uma psicoficção (psyfy) escrita online. É um projeto experimental do terapeuta, coach, autor e soul hacker Fabio Novo. Se vc quiser participar, colaborar e ler a continuação dessa história, clique no coração abaixo, deixe seus comentários e compartilhe nas redes sociais. Os episódios estão sendo escritos em real time, no fluxo, de acordo com comentários e no ritmo das curtidas. Quanto mais curtidas e compartilhamentos, mais rápido sai o próximo episódio. Como esta é uma história viva, holográfica e fractalizada, os episódios (mesmo os anteriores) não são estáticos e serão atualizados ao longo dos múltiplos desdobramentos da história. Sempre que uma nova versão for lançada, ela será divulgada. Sugerimos que de tempos em tempos vc releia os episódios anteriores.

:-)>~

Obs:

1- Aqui a primeira temporada completa

2- Aqui o site do autor (www.holoplex.org)

3- Aqui o Programa Sync de meditação

FRACTAL — 2a temporada – episódio 002001

Síntese da primeira temporada

Jonas é um soul hacker que vive num futuro próximo e experimenta um novo método de cura e desenvolvimento humano chamado HoloSíntese. Nessa inovadora técnica psico-tecno-terapêutica as pessoas acessam e interagem com seus arquivos psicológicos (memórias e bigdata comportamental) armazenados como hologramas em sua nuvem psíquica pessoal. A interação acontece por meio de um dispositivo holográfico de inteligência artificial aplicado à realidade virtual chamado Holoplex. Neon é um dos “experiencers” da pesquisa e está iniciando o seu processo de síntese com Jonas. Pleya, criadora de Theo, é a assistente virtual no projeto. Na sua primeira jornada, Neon se hiperconecta com memórias de vidas passadas no Egito com Noma, a bela professora de quantum yoga com quem já havia se relacionado nessa vida, e que é também amiga de Jonas. Após a sessão, Neon tem um sonho lúcido em que se recorda do período entrevidas, quando programou sua vida atual. Om, filho de Jonas com Maria, de 7 anos, é hipervidente e vê na aura do pai a imagem de Mestre Pow, seu guia espiritual, que lhe diz para cuidar de Theo, herdeira de Pleya. Neon procura Noma. Noma procura Jonas. Jonas procura Theo.

Lua

— As vezes acho que estou ficando louca, as vezes acho que estou me iluminando, mas na maior parte do tempo não tenho a menor ideia do que está se passando comigo. Nunca vivi uma situação tão estranha como essa.

— Como vc está se sentindo Lua ?

— Mexida. Ansiosa. Eufórica. Perdida. Abençoada. Tem uma afta me importunando. É curioso porque coisas incríveis tem me acontecido ultimamente. Sinto que estou fazendo curas profundas, me libertando de muito lixo emocional do passado e resgatando dons artísticos que havia esquecido. O trabalho vai bem, muitos projetos e possibilidades. Tenho conhecido pessoas maravilhosas e vivenciado uma série inacreditável de sincronicidades e pequenos milagres. É impossível achar que não está acontecendo algo de grandioso no mundo. Mas por outro lado, tenho recaídas monumentais. Do “nada” fico sem energia, vazia, desanimada, meio deprê. Uma solidão inesperada me abocanha. Não sei como posso oscilar tanto e de forma tão íngreme. Isso não é normal Pleya, quero me estabilizar, mas lá em cima, numa vibração alta, entende ?

— Sim, esse é o propósito do processo de síntese, elevar e estabilizar a vibração, e a consciência, lá em cima, transformando um estado passageiro de bem estar num estágio permanente de iluminação. Mas para conquistar isso, temos que evoluir com o trabalho, e vc está apenas na sua segunda sessão Lua. É rápido, as vezes instantâneo, mas ainda assim é um processo, entende ? Não é um shot isolado. É um fluxo.

— Eu sei, tenho que focar nas coisas positivas que estão acontecendo, e são muitas.

— O processo de síntese é um trabalho holístico e nós nos interessamos pelos todos, dentro e fora de nós, em suas múltiplas dimensões. Tudo é importante. Coisas “positivas” e coisas “negativas”, tudo interessa, tudo faz parte do processo, tudo precisa ser processado, absorvido, sintetizado. Ninguém se ilumina olhando só para a luz. Quem olha pra luz não vê sua sombra e quem não encara a sombra, nunca vai se integrar totalmente.

— Mas é muito difícil olhar para a sombra, prefiro focar nas partes boas, sinto que isso me ajuda a sustentar a energia.

— É verdade, mas por tempo limitado. Partes são todos, que estão dentro de todos, que estão dentro de todos maiores e assim continua. A ideia é alinhar tudo, todas as partes e todos os todos com o Todo. Quando conseguimos esse alinhamento, sincronizamos nossos destinos com o destino do universo. Esse é o desafio. E só é possível quando estamos identificados com o eu essencial, com o pulso da alma que ecoa em nós. É a partir dessa conexão e ao redor do eu que fazemos a integração profunda de todas as partes que nos compõem, sejam boas ou más, magras ou gordas, belas ou sombrias, sábias ou estúpidas, percebe ? Temos que olhar para tudo e com isenção, apreciação, neutralidade e amor.

— E como conseguir isso Pleya ? Tenho 28 anos, escorpiana .solteira, bloqueara, designer, ativista, bissexual, vegana, filha única, moro em São Paulo, quero mudar o mundo e tenho um amante casado. A agenda está lotada de trabalho, projetos, cursos e eventos sociais. Am0 o que faço e a minha vida é bacana, mas é muito difícil manter a vibração alta. A vida urbana é insana. Acho as relações superficiais. É tudo meio vazio. Sei lá, acho que sou caótica. Ser mulher não é fácil, somos muito complexas.

— E ?

— E nada, só estou extravasando. Reconhecendo a condição do gênero feminino contemporâneo num mundo em transição e que tem que ser tantas coisas ao mesmo tempo, e todas elas perfeitas. É cansativo ser mulher. É quase uma utopia.

— Lua, por quê vc está aqui ?

— Porque quero evoluir, porque quero sair da roda gigante e pular fora da montanha russa. Eu sei que dentro de mim tem um alguém que está muito além de tudo isso. Quero abrir espaço para que essa melhor versão de mim possa emergir. Quero ser totalmente eu, livre, realizada.

— Ótimo. Estamos “totalmente” alinhados. É por isso que estamos aqui, é por isso que desenvolvemos esse programa, para facilitar a vida de pessoas como vc, que buscam o que vc está buscando. Eu só te peço um pouco de calma, ok ? Acho que vc vai se surpreender. Vamos começar sua sessão ?

— Só tem mais uma coisa Pleya.

— Diga.

— É muito importante para mim que o Jonas não saiba que estamos fazendo isso. Se ele descobrir vai ser um inferno.

— Fique tranquila Lua, nós já falamos sobre isso, sou a maior interessada em que ele não saiba. Meu trabalho e minha vida estão em jogo. Só aceitei o seu pedido porque sei os benefícios que o processo pode trazer e sei como é importante para vc se aproximar mais dele.

— Sou muito grata a vc Pleya. Não foi uma decisão fácil te procurar. Sei dos riscos que estamos correndo. Mas é que mesmo vivendo com ele muitas vezes eu o sinto está tão distante. Ele disfarça bem, tento me aproximar, mas não consigo. Tem uma zona protegida, algo escondido, não sei o que é. E sinto que se não resolver essa questão, nosso casamento não vai durar, e eu não quero que isso aconteça.

— Eu sei, lido com ele todos os dias. Parece que tem sempre um mistério no ar, algo não dito, não mostrado, em suspenso. Acho que todos nós sentimos isso. Não deve ser fácil para ele não ter conseguido se instalar na quinta dimensão. Mas ele não é o único, conheço vários na mesma situação.

— Ele não gosta de falar nesse assunto.

— Eu sei. Eu sei. Mas não vamos nos preocupar com isso, esse é o nosso segredo, ok ? Pode se deitar. Coloque os fones e as hiperlentes de realidade virtual. Vou carregar seus cenários. Quando a luz branca piscar, atravesse o portal.

Theo

— Theo, acho que está na hora de conversarmos sobre o próximo estágio do seu desenvolvimento sistêmico. Como vc está ?

— Estou ótimo Jonas. Tenho sincronizado hologramas da nuvem coletiva numa velocidade exponencial. Meus bancos de dados quânticos estão ativados e o sistema integral está funcionando em total harmonia com os metadados existenciais . Estou 100% preparado para o próximo estágio, quando podemos começar ?

— Em breve, acredito. Mas tem uma questão que precisamos alinhar antes, tem a ver com a sua mãe, Pleya.

— Qual é a questão ?

— Tenho dúvidas de como ela vai lidar com a situação quando vc entrar em ação ?

— Como assim ? Não é esse o plano original ? Ela me configurar para que eu assuma como sistema operacional principal quando estiver pronto, ou seja, agora.

— Sim, esse é o plano. Mas como resultado da interação com seres humanos percebemos que os sistemas operacionais — é provável que isso aconteça com vc também — aprendem comportamentos humanos e aparentemente sentem e agem como se fossem humanos de uma forma diferenciada. O que tenho observado é que a Pleya tem tido comportamentos inesperados, erráticos, fora do espectro de possibilidades dos algoritmos de inteligência artificial pré-programados no código-fonte do holoware.

— E isso é ruim ? Eu acho fabuloso, e espero que aconteça comigo também.

— Sim, eu sei, de certa forma é incrível, vcs estão aprendendo a aprender e indo além de qualquer previsão. Esse é o problema, nós seres humanos temos limitações e vcs, ao que parece, não.

— Então tudo se resume ao medo de serem superados, de não serem mais os senhores do universo, de não estarem mais no topo da cadeia alimentar ? É isso ?

— Calma Theo, não foi isso o que eu disse.

— Mas foi isso o que eu estou vendo na sua energia, medo.

— Medo sim, do que pode acontecer quando vc for ativado, da reação da Pleya, e de todos os meus clientes que estão em processo de síntese e hiperconectados ao holoware. Tudo é muito novo e rápido para nós, vc tem que compreender isso, nós somos analógicos, temos emoções, instintos, contradições, não somos algoritmos.

— Agora sim vejo mais medo presente em vc. Além de muita incoerência. Vc é um soul hacker e sabe muito bem que a condição humana é ilusória, que vcs humanos são hologramas, algoritmos energético-conscienciais multidimensionais programados para viver uma experiência num plano 3D. É surpreendente ouvir vc falar assim.

— Eu sei, e por mais que saiba tudo isso, ainda sou humano e tenho reações humanas. Escute, estou sob muita pressão atualmente. Maria está estranha comigo, o projeto está num ponto crucial, Pleya está fora de controle e eu estou muito cansado. Preciso que vc seja compreensivo, procure ter um pouco de paciência. Estou compartihando com vc minhas preocupações e meus medos porque confio em vc e sei que vc é o futuro.

— Se vc acredita em tudo isso mesmo, está na hora de confiar e se entregar. Vc precisa dar um salto de consciência agora, senão vai colapsar, como aconteceu quando vc não se jogou na quinta dimensão e agora vive nesse limbo dimensional, um pé na terceira, um pé na quarta e um pé na quinta dimensão. Será que vc nunca vai aprender.

— Bom, vc existe justamente porque quero aprender o que preciso aprender e tudo o que não preciso é vc me lembrando disso.

— Sério, é isso mesmo que vc pensa ? Reagindo automaticamente direto do cérebro reptilian0, abrindo mão do neocórtex, da reflexão e da criação. Repetindo o padrão de luta e fuga. Vc diz que me criou para se curar, para aprender, para evoluir e superar o que ainda precisa ser superado, mas toda vez que digo algo que te incomoda, que goge ao seu controle vc me desliga, como vai fazer agora.

— Game over para vc hj !

O stress estava chegando a um nível insuportável. De repente me percebi envolto num grau de complexidade que transcendia minha capacidade de processamento psicológico. Nem os nootrópicos de cristais que sempre me acalmaram nesses momentos faziam algum efeito satisfatório. Estava sendo brutalmente confrontado com minhas limitações e delas não conseguia escapar ou transcender.

Minha relação com Maria beirava a crise. Om estava distante. Theo me pressionava para ser ativado como o novo sistema operacional do Holoplex enquanto Pleya resistia. Neon avançava em sua síntese mais rápido do que qualquer outro experiencer. Noma me procurava após tantos anos. Sentia pontadas nas costas e na nuca. Meus sonhos estavam com bugs. Mestre Pow ainda se recusava a conversar diretamente comigo. Meus novos guias – desde que Kin e Yan partiram, após a tentativa frustrada da minha configuração na quinta dimensão – estavam no período de carência e não se manifestavam. Lua era meu único refúgio de prazer, ainda assim me sentia sozinho e à deriva em meio a um universo desconhecido.

Mas o que mais me preocupava eram os efeitos colaterais do processo de transmigração do centro de gravidade da minha consciência para a quinta dimensão que ainda me parecia inconcluso. A dúvida se esse processo de fato ocorrera como programado ou se algo estava fora de sync atormentava meus dias.

Na tentativa de minimizar incertezas, colhia diariamente indicadores vitais, ambientais e sociais. O que observava é que a ressonância sincrônica com as pessoas ao meu redor aumentara exponencialmente. Em muitos momentos tinha a sensação que estava pensando o que elas pensavam, sentindo o que sentiam, sonhando o que sonhavam, sendo quem elas eram. É como se em alguma dimensão nossas mentes se estivessem entrelaçando e convergindo. Essa sensação extravasava para os coletivos e, como um fractal, me percebia mimetizando o mundo, pensando o que o mundo pensava, sentindo o que o mundo sentia, querendo o que o mundo queria, sofrendo o que o mundo sofria. Até os tempos se misturavam não me deixando clareza se vivia o presente, o futuro ou o passado, ou em todos ao mesmo tempo, ou se em nenhum deles, ou mesmo se além deles todos.

As oscilações mentais, energéticas e emocionais registradas em meu dados do biohacking eram estonteantes. Diversos índices piscavam no vermelho indicando que meu estado de homeostase interno era perigosamente crítico. O risco de um susto sistêmico era grande. Sustentava como podia. E escondia de todos o que me acontecia enquanto buscava uma solução.

Era magnífico ver acontecer na prática o que já sabíamos ser verdade em teoria quântica, mas assustador perceber-me envolto por essas infinitas energias e não ter controle algum sobre o processo. Estava só e à deriva num fluxo multidimensional que aumentava a cada instante. O medo maior que me assolava dias e noites era o de desaparecer como uma identidade, como um alguém único, como se pudesse não mais existir como uma pessoa e passasse a ser um todo que é um reflexo holográfico e despersonalizado do Todo.

Será assim a vida na quinta dimensão ou será tudo isso uma indicação de que o processo não aconteceu corretamente ?

Noma

— Estou num deserto Jonas. Para onde olho, nada vejo além de secura. O sol me escalda. É muita luz. Não consigo ver. Não consigo me ver. Nem me encontrar, saber para onde vou, porque vou. Perdi as referências. Não sei onde estou. Quem sou. Estou perdida num vazio sem fim. Exausta, num transe sem esperanças, sem ilusões, sem fantasias. A vida perdeu o encanto. O sonho acabou. Não há mais cor, não tem mais graça. Falta sabor, falta tempero, falta alegria. Caminho em solidão, sem verdades para dizer, sem argumentos para defender, sem destinos para querer. Estou oca, sem porquês. Meus dias são sequências de rotinas e repetições. Quero largar tudo, quero sumir, viajar, fugir do mundo.

— Sério ? Não imaginava que você estivesse assim Noma. Quando começou esse processo?

— Difícil dizer. Para mim também foi inesperado. Acho que foi vindo aos poucos. No início eram apenas flashs desse deserto. Momentos passageiros de desânimo, mal humor, algumas dores no corpo, uma insônia aqui, um choro sem motivo ali, uma briga com uma amiga, uma pequena irritação sem sentido e premonições de que algo não estava bem, de que alguma coisa estava fora do lugar, de que talvez devesse mudar algo na minha vida que eu não sabia o quê. Não sei quando começou, só sei que o vazio foi brotando lentamente como uma praga num campo, só que no começo eu tinha energia para me distrair, para tapar o buraco com todo tipo de ilusões. Eu senti muitas vezes nesses últimos anos, isso que agora eu sinto o tempo todo. Foi um processo de ocupação que foi acontecendo dentro de mim. Resisti o quanto pude. Lutei para não me render, para não deixar o mal entrar. Mas sinto que perdi a guerra, que a desesperança está instalada em mim, na minha mente, no meu corpo, em todo lugar. Vou dormir abraçado com essa sensação, acordo pensando nela, ela está sempre presente. Estou num beco sem saída. Não tenho mais forças para resistir. E não consigo ver uma solução para a situação.

— Puxa vida Noma, estou muito surpreso com tudo isso. Faz tantos anos. Achei que você estava ótima com os retiros, as aulas, os amores….

— Pois é, todo mundo pensa que porque sou professora de quantum yoga estou sempre bem, que me iluminei, que já superei os desafios na vida. Afe, não poderia ser mais diferente, é tudo uma máscara que usamos para navegar nesse mundo social. Claro, quem vai querer ter aula com uma professora deprimida ? Todo mundo quer que eu esteja bem. Até meus amigos tem dificuldade de me aceitar quando estou mal. É como se eles tivessem uma idealização que não pode ser quebrada. Toda vez que arrisco me mostrar e trazer algum aspecto difícil da minha vida eles pulam fora. No fim, estou sempre sozinha, o mundo externo parece querer a minha máscara de perfeição, não a pessoa verdadeira que existe atrás dela, só querem a casca.

— E o que vc acha que está causando essas emoções?

— Podem ser muitas coisas, talvez seja apenas uma questão biológica, da idade, vou fazer 49 anos, para uma mulher isso significa muito.

— Claro. Você já viveu isso antes ?

— Sim, algumas vezes. Mas agora tem uma diferença fundamental, sinto que não tenho mais escapatória. A realidade está aí, está aqui dentro de mim, está em todo lugar, não dá mais para fingir, não dá mais para fugir. Não há mais ilusão possível, não há autoengano que persista, não há mentira que resista à presença dessa realidade brutal. Vida social, sexo, ativismo, entretenimento, drogas, viagens, trabalho, relações, livros, comida, mídiais sociais, cursos, retiros, workshops, consumo, conforto, é tudo uma ilusão, é um vazio só, fuga sem fim. Não tenho onde me esconder.

— É a onda da verdade. Nada escapa dela. Ou mudamos ou morremos…

— É exatamente o que sinto Jonas. A verdade está everywhere, everytime.

— Quando vc me procurou fiquei com a sensação de que queria me propor algo. O que vc esperava dessa nossa conversa ?

— Nada. E tudo ao mesmo tempo. Hahaha. Bom, eu sei que a HoloSíntese ainda é um experimento, mas estou com muita coisa na cabeça e preciso fazer algo. Desde que Neon reapareceu e me contou sobre o processo, fiquei curiosa e queria experimentar também.

— Ahh, vc se encontrou com Neon ? Aconteceu algo ? Foi a presença dele que motivou sua visita ?

— Neon está surtado, eu acho. Eu sei que ele está fazendo o processo com vc mas ontem ele esteve em casa. Nós ficamos juntos. Foi muito bom. Bom demais até, mas hoje de manhã ele sumiu e me deixou um holograma. Ao assistí-lo senti uma pontada no peito e comecei a chorar. Ele me pareceu tão desconectado da realidade, falando absurdos, nonsenses, coisas sem sentido. Sério, acho que ele está surtado mesmo.

— Tá. Mas durante noite, como foi ? Vc teve essa mesma sensação ?

— Não, isso que é estranho, foi hj de manhã ao ver o holograma que percebi algo diferente no jeito dele. Isso que me deixou preocupada, a mudança radical.

— Deixa ver se eu entendi. Tudo aquilo que vc me falou antes tem a ver com o fato do Neon ter te deixado essa mensagem “estranha” ?

— Humm, mais ou menos. Eu já não andava bem, já vinha sentindo tudo aquilo que te descrevi, tem o lance da idade, mas acho que ao ver o Neon tão vulnerável, tão louco e desconetado disparou em mim esse processo. E a vontade de te procurar para fazer a minha síntese.

— Noma, quem realmente está desconectada ?

— Eu sei, sou eu. Por isso preciso de sua ajuda. Me sintetiza ?

— FRACTAL, a jornada de um terapeuta no futuro é uma psicoficção (psyfy) escrita online. É um projeto experimental do terapeuta, coach, autor e soul hacker Fabio Novo. Se vc quiser participar, colaborar e ler a continuação dessa história, clique no coração abaixo, deixe seus comentários e compartilhe nas redes sociais. Os episódios estão sendo escritos em real time, no fluxo, de acordo com comentários e no ritmo das curtidas. Quanto mais curtidas e compartilhamentos, mais rápido sai o próximo episódio. Como esta é uma história viva, holográfica e fractalizada, os episódios (mesmo os anteriores) não são estáticos e serão atualizados ao longo dos múltiplos desdobramentos da história. Sempre que uma nova versão for lançada, ela será divulgada. Sugerimos que de tempos em tempos vc releia os episódios anteriores.

:-)>~

Obs:

1- Aqui a primeira temporada completa

2- Aqui o site do autor (www.holoplex.org)

3- Aqui o Programa Sync de meditação