Como gerenciar múltiplas personalidades? Quem somos nós ?
Como gerenciar nossas múltiplas personalidades ?
Uma das maiores ilusões no caminho do autoconhecimento é a crença de que temos “uma personalidade” e que somos um todo único, homogêneo e imutável.
Nada poderia ser mais oposto, pois na prática, o que observamos, é o exato contrário.
Somos seres múltiplos, caleidoscópicos. Somos uma multidão psíquica, uma psicodiversidade, uma constelação heterogênea de forças psicológicas que gravitam ao redor de um eu, na maior parte do tempo, adormecido.
Essa comunidade de fragmentos psico-energéticos que convivem dentro de nós compõe o que chamamos de personalidade integral.
A personalidade integral é um complexo multicolorido de personalidades e subpersonalidades. É uma sociedade multidimensional, multifacetada e mutante de visões, ideias, tendências e possibilidades conectadas em rede que coabitam a nossa consciência.
As personalidades não sabem da existência umas das outras e se vêem como exclusivas e donas dos nossos corpos e vidas. Estão mimetizadas entre si e simbioticamente conectadas ao eu – o gestor da consciência e do todo — o que dificulta significativamente o nosso trabalho de integração e auto-organização.
Essas múltiplas sub-partes ou sub-eus espalhados pelas múltiplas dimensões da consciência estão em constante atividade e influenciando o nosso comportamento, embora nem sempre sejam protagonistas no palco volátil da psique humana.
De acordo com suas afinidades e propósitos, alojam-se em diferentes órgãos e chakras, de onde procuram comandar a consciência e chamar a atenção para as suas necessidades e desejos, acalentando o sonho secreto de ocupar definitivamente o lugar do eu — sonho que muitas vezes realizam — e realizar suas metas individuais.
Algumas personalidades são mais fáceis de reconhecer do que outras. Umas são emocionais ou intuitivas, outras são mentais ou imaginativas. Há todo tipo de personalidades: protagonistas, coadjuvantes, preguiçosas, fortes, fracas, corajosas, medrosas, coitadinhas, arrogantes, vítimas, engraçadas, sombrias, orgulhosas, amorosas, frias, criativas, espiritualizadas. E podem estar no modo ativa, latente ou adormecida, à espera de uma oportunidade para entrar em ação.
Uma vez ativadas, as personalidades tendem a adquirir vida própria e a interferir em nossas decisões e escolhas, porque que são sistemas semi-independentes dentro do ecossistema da nossa consciência, e se auto-organizam em função de suas próprias agendas, muitas vezes contraditórias e antagônicas entre si.
É comum algumas personalidades estarem mais ativas em determinadas fases da nossa vida, alternando-se em presença conforme evoluímos. Assim, na infância, podemos estar mais identificados com uma personalidade mais introspectiva. Na adolescência, com a rebelde. Na fase adulta, com a espiritualizada. Ou seja, conforme nos transformamos e nos integramos internamente, as personalidades vão se transformando também e abrindo espaço para que outras partes nossas se manifestem.
Na prática, as personalidades demandam energia, espaço, tempo, atenção, amor, cura e reconhecimento para poderem atender às suas necessidades, carências, traumas, medos, desejos e projetos. Para tanto, buscam ocupar o campo da consciência por meio do controle do eu, e o farão enquanto estivermos anestesiados e esquecidos de nós mesmos.
Por isso em nosso processo evolutivo é tão importante despertar o eu, que tem a função principal de identificar, aceitar, integrar e sintetizar as personalidades. Mas para que isso aconteça, necessitamos nos des-identificar delas, das partes, e nos identificar com o eu, o todo, reassumindo assim o papel de liderança, organização, harmonização e síntese da personalidade integral.
Mas adespeito do que foi dito, as personalidades não devem ser vistas como inimigas ou pesos que temos de carregar. Na verdade, são nossas aliadas; forças e instrumentos dos quais dispomos para viver e nos realizar na vida.
Na prática, formam a nossa “equipe” interna sendo essenciais na realização do projeto do eu, pois absorvem e processam a experiência da vida e gerenciam o contato com a realidade externa. Sem elas, o contato de eu com o plano físico seria radical, sem filtro e sem contorno. Sem elas, não teríamos braços nem pernas para para viver.
Em suma, as personalidades são partes nossas, estruturas energético-conscienciais que coabitam a consciência. São forças psicológicas internas que processam as experiências e nos dão apoio (quando alinhadas) para realizarmos o nosso projeto de vida neste mundo.
Em razão da nossa falta de autodomínio, as personalidades acabam ocupando um espaço na consciência maior do que deveriam. É quando nos esquecemos de quem somos, abandonamos a essência, ficamos cegos, reféns da ilusão e identificados com as personalidades, nem sempre saudáveis.
A ideia fundamental da HoloSíntese é que as personalidades se alinhem e sirvam ao projeto do eu — e, por consequência, ao projeto do Eu –, e não o contrário, como ocorre na atual sociedade, que apenas agora começa a despertar da ilusão e do sonambulismo.
— texto e imagens fazem parte do livro Holoplex, de Fabio Novo.
08/11/15